terça-feira, 5 de outubro de 2010

"Estamos passando por uma grande mudança na balança do poder”, diz Martin Wolf

O colunista chefe do “Financial Times” afirma que o G20 passa a ter mais importância do que G7 nas discussões econômicas e acredita que a China deve crescer por mais 15 anos

Por Viviane Maia
  Divulgação
Martin Wolf: crise mostrou o excesso de confiança do mercado

O mundo está vivendo uma gigante transformação. Na economia, a mudança pode ser constatada pelo maior peso das decisões do G20, grupo que reúne os principais países ricos e emergentes, frente ao G7, formado somente pelos países mais ricos do mundo.

“Estamos passando por uma grande mudança na balança do poder”, afirma Martin Wolf, colunista chefe do jornal Financial Times e um dos principais comentaristas de economia do mundo. “E essa mudança foi puxada pelos países emergentes”.

Para Wolf, as discussões envolvendo o papel do Estado na economia, ocorridas principalmente após a crise mundial, em setembro de 2008, marcam esse processo de transição na história. “Ao pensarmos no papel do governo e do Estado, percebemos que estamos em meio a um momento histórico de mudança tecnológica e econômica”, afirmou o jornalista, em apresentação na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), em São Paulo. “O mundo está em um processo de mudança extraordinária e a nossa capacidade de percepção sobre isso ainda é muito limitada".

SAIBA MAIS

Mesmo definindo-se como “não especialista” sobre o Brasil, Martin Wolf disse que o país trabalha com um modelo híbrido de estado. “O Brasil tem um estado de bem-estar social, retratado pelos altos níveis de transferência de renda, mas ao mesmo tempo tem características desenvolvimentistas”, afirma Wolf. “Mas temos que pensar até que ponto esse modelo híbrido é sustentável?”, questiona o colunista.

Além da busca de um modelo de governança sustentável, o Brasil – assim como outros países – também passa por um processo de “choque trabalhista”. “O Brasil quadruplicou a oferta de mão de obra mas nem as empresas, tampouco o Estado, conseguem oferecer o que é necessário para aproveitar essa mão de obra da melhor forma, como infraestrutura, educação e segurança para todas essas pessoas. Isso pode afetar e muito o país”.

Crise
Para o jornalista, a crise só mostrou o excesso de confiança que existia no mercado e reforçou a importância da atuação do estado. “Tivemos um colapso enorme, um resgate urgente, que funcionou. Mas foi em função disso que o jogo de política mudou por completo.”

Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central (BC), que também participou do evento, completou que a crise evocou uma nova forma de pensar sobre o sistema financeiro e, sobretudo, fez com que a economia mundial voltasse a ter déficits fiscais gigantescos. “Todo o sucesso na redução da dívida pública na década de 70 foi revertido e, ao fim desta crise, teremos a dívida do setor público comparada ao que tínhamos na década de 50.”

China em alta
Na opinião de Wolf, o processo de globalização “permanece como o maior acontecimento da nossa era”. Um dos exemplos disso é o crescimento dos países asiáticos. “Há 30 anos, a Índia tinha um PIB per capita correspondente a 3% dos Estados Unidos. Hoje, está em 20%.”

A China é um capítulo a parte. O colunista do Financial Times afirma que o país deverá manter o ritmo de crescimento de forma acelerada por um longo período. “O dragão deve manter o ritmo anual de expansão econômica – perto dos 10% ao ano – por mais 15 anos”, afirma. No entanto, aponta como principal desafio dos chineses administrar a redução dos investimentos e substituí-los por consumo. Hoje, de acordo com o colunista, a China tem como principal enfoque a exportação e para manter esse crescimento econômico terá que "mudar a chave" e estimular o consumo próprio. “Em uma economia que conta com menos de 40% do PIB em consumo, essa transição será bem difícil. E não está claro como isso deve acontecer”.

Fonte: Revista Época.

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